Vidas entrelaçadas e a iminência da morte: o amor incondicional em "Fale com ela"

"O amor tudo suporta", diz o versículo bíblico. Foi esse o pensamento que me acompanhou ao assistir ao excelente "Fale com ela" (Hable com ella, 2002), do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, nosso filme-post desta semana.

Almodóvar retrata com sensibilidade temas como o amor, a amizade, a vida familiar e os conflitos. Por isso, gosto de suas produções.

Benigno, Marco, Alícia e Lydia. Poderiam ser quatro estranhos, pessoas por quem eu e você passaríamos na rua ou sobre quem leríamos a respeito nos jornais. E eles o eram. Até que a vida (e sua antítese, a morte), de forma contundente e irreversível, os une.

O enfermeiro Benigno (Javier Cámara) desdobra-se em cuidados com a jovem bailarina Alícia (Leonor Waitling) que, pelo estado de coma em que se encontra, parece que jamais voltará à vida. Nesse momento da história, os nomes de Benigno e Alícia aparecem na tela unidos (Benigno-Alícia).

Um dia, Benigno, sempre envolvido com o trabalho e os cuidados com a mãe idosa, vai ao teatro. Impressiona-se com a peça. Porém, o que realmente capta sua atenção é o choro emocionado de um homem, por volta de 40 anos, o jornalista Marco (Dário Grandinetti).

Marco, ao assistir a uma tourada, conhece Lydia (Rosario Flores, maravilhosa no papel, embora eu odeie touradas), toureira que herdara do pai a profissão (e a sina). Suas vidas caminham juntas, até que um acidente na arena (e um segredo não revelado) deixa Lydia à beira da morte. A sequência que aparece na tela a essa altura da trama é: Marco-Lydia.

Histórias e lembranças, momentos e pessoas vêm à mente de Marco, o namorado. Ao vê-lo no hospital, Benigno o reconhece, e recomenda a ele que FALE com sua amada, ainda que ela esteja em coma.

A seu turno, Benigno relembra o momento em que conheceu Alícia, que ensaiava na escola de balé em frente à casa dele. E dialoga com ela inerte. E ultrapassa, por assim dizer, o limite da ética por conta do amor que sente pela bailarina.

Com a morte de Lydia oito meses depois, Marco volta à Espanha, já que Benigno fora preso. Por força das circunstâncias e pela amizade que surgiu entre os dois, Marco vai em busca de Alícia, que teve destino surpreendente, ao qual somente ele, Marco, terá acesso.

À sequência Marco-Benigno, segue-se Marco e Alícia.

Tristeza, morte, alegria, amizade, amor, angústia, vida: todos esses substantivos e os mais que existem não dão conta dessa bela história, embalada pelas canções de Caetano Veloso. “Paloma”, cantada pelo artista em uma das cenas, é lindíssima.

Uma história diferente, surpreendente e intensa, na qual o amor está acima de tudo. Assistam...

Abraços especiais do Claquete para Be, Clau, Guto (amigos queridos e que amam esse filme), o fofo Cacá e Fernando.

2 Response to "Vidas entrelaçadas e a iminência da morte: o amor incondicional em "Fale com ela""

  1. Anônimo Says:
    9 de agosto de 2010 às 17:36

    Filme lindo... meu marido sempre chora ao vê-lo. Um abraço e parabéns!

  2. Northon says:
    10 de agosto de 2010 às 13:42

    Almodóvar, único e simplesmente delicado... Fale com ela é uma lição de vida em cada diálogo, em cada momento e em cada cena.
    Além desse filme ainda indico Transamérica, volver e outros do Almodóvar! Parab;ens pelo excelente post!

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